Dragagens, um mal
necessário
A propósito da boa
discussão sobre o Projecto de Dragagens no Porto de Setúbal, achei por bem
recorrer um pouco à minha experiencia de mais de quinze anos passados
profissionalmente na área das dragagens , não só em Portugal.
A necessidade
das dragagens nasceu há muitos séculos
com a pressão para se criarem boas e
seguras acessibilidades à navegação de embarcações, cujo porte ia aumentando e
que movidas principalmente pelo vento, apresentavam dificuldades de
manobra em canais e barras de enorme
perigosidade, caso por exemplo, da entrada no Rio Tejo onde muitos e trágicos
naufrágios aconteceram .
Nos primórdios vamos
encontrar a notável engenharia toscana quatrocentista , bem como a inesquecivel
obra de leonardo da Vinci que deverão ter inspirado o Engenheiro-Mor de
Portugal, Leonardo Turriano (1598-1629) quando confrontado com os problemas de
assoreamento da Barra do Tejo e dos Cachopos junto ao Bugio, decidiu
escrever um trabalho inspirador
“Discurso de Leonardo Turriano sobre limpar la barra do Tajo e otras barras de
otros rios” (1607)
Apresenta alguns
desenhos de dragas ; notáveis ! Movidas por tração animal ou pelo vento ou por força humana.
Feita esta brevissima
introdução passemos aos tempos de hoje.
E começo por afirmar
que há dragagens absolutamente necessárias mas que nunca deveremos exagerar nos
pressupostos tal com parece acontecer e na minha opinião, no caso de Setúbal.
Porquê para quê este
Projecto ?
Maiores navios de
contentores e carga geral ? Navios de Cruzeiro ?
Mas Sines aqui ao
lado precisa de concorrencia de Setúbal no caso dos contentores ?
E Lisboa ( ou
Barreiro....) precisam da concorrencia de Setúbal, nos Cruzeiros ?
Aprofundar o Canal da
Barra parece não apresentar discussão. A segurança e o acesso de navios de
maior calado, pode ser uma boa justificação.
Já o seu alargamento
para permitir o cruzamento de dois navios , parecer cair no exagero operacional,
alem de que ninguem me convenceu técnicamente de que tal intervenção não terá
consequencias graves nas margens de Troia e da Figueirnha/Arrábida.
E mesmo que a Empresa
dragadora aceite alguns condicionalismos para proteção dos nossos roazes, estes
vão sofrer perturbações evidentes, já hoje sentidas com a presença de
embarcações a motor para atração do turismo e para lazer .
A descarga destes
inertes dragados, quer para realimentação da deriva costeira quer para repulsão
para terra ou margem do Rio Sado decerto não apresenta inconvenientes
ambientais, uma vez que pela sua situação não estarão contaminados.
Passando ao Canal
Norte e Bacia de Rotação, o caso muda de figura e eu começo por perguntar qual
foi o resultado da recolha e análise de sedimentos, tal como é obrigatório ?
Por outro lado, a
nossa Comunidade Piscatória, de saber ancestral, coloca sérias duvidas sobre as
dragagens nestes volumes, acreditando que irão prejudicar “nurseries” e o ciclo
alimentar dos roazes e tambem prejudicarão a
pesca artesanal que se processa diariamente no Sado.
Finalmente , o tipo de dragas e a sua
dimensão, poderão ser um factor de primordial importancia e que deve ser
objecto de cuidada ponderação , não bastando as promessas da Empresa armadora,
logicamente mais interessada em não perder tempo em paragens definidas pelo
Concessionário e desejando resguardar o lucro do Contrato.
Muito
mais haveria para dizer, em defesa do belissimo Rio Sado e da Cidade que não
merece uma cortina de contentores ao longo da Margem Norte mas fica para outra
ocasião se tal se proporcionar.
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