quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Dragagens em Setúbal

Dragagens, um mal necessário

A propósito da boa discussão sobre o Projecto de Dragagens no Porto de Setúbal, achei por bem recorrer um pouco à minha experiencia de mais de quinze anos passados profissionalmente na área das dragagens , não só em Portugal.
A necessidade das  dragagens nasceu há muitos séculos com a pressão para se criarem  boas e seguras acessibilidades à navegação de embarcações, cujo porte ia aumentando e que movidas principalmente pelo vento, apresentavam dificuldades de manobra  em canais e barras de enorme perigosidade, caso por exemplo, da entrada no Rio Tejo onde muitos e trágicos naufrágios aconteceram .
Nos primórdios vamos encontrar a notável engenharia toscana quatrocentista , bem como a inesquecivel obra de leonardo da Vinci que deverão ter inspirado o Engenheiro-Mor de Portugal, Leonardo Turriano (1598-1629) quando confrontado com os problemas de assoreamento da Barra do Tejo e dos Cachopos junto ao Bugio,   decidiu escrever  um trabalho inspirador “Discurso de Leonardo Turriano sobre limpar la barra do Tajo e otras barras de otros rios” (1607)
Apresenta alguns desenhos de dragas ; notáveis ! Movidas por tração animal ou pelo vento  ou por força humana.
Feita esta brevissima introdução passemos aos tempos de hoje.
E começo por afirmar que há dragagens absolutamente necessárias mas que nunca deveremos exagerar nos pressupostos tal com parece acontecer e na minha opinião, no caso de Setúbal.
Porquê para quê este Projecto ?
Maiores navios de contentores e carga geral ? Navios de Cruzeiro ?
Mas Sines aqui ao lado precisa de concorrencia de Setúbal no caso dos contentores ?
E Lisboa ( ou Barreiro....) precisam da concorrencia de Setúbal, nos Cruzeiros ?
Aprofundar o Canal da Barra parece não apresentar discussão. A segurança e o acesso de navios de maior calado, pode ser uma boa justificação.
Já o seu alargamento para permitir o cruzamento de dois navios , parecer cair no exagero operacional, alem de que ninguem me convenceu técnicamente de que tal intervenção não terá consequencias graves nas margens de Troia e da Figueirnha/Arrábida.
E mesmo que a Empresa dragadora aceite alguns condicionalismos para proteção dos nossos roazes, estes vão sofrer perturbações evidentes, já hoje sentidas com a presença de embarcações a motor para atração do turismo e para lazer .

A descarga destes inertes dragados, quer para realimentação da deriva costeira quer para repulsão para terra ou margem do Rio Sado decerto não apresenta inconvenientes ambientais, uma vez que pela sua situação não estarão contaminados.
Passando ao Canal Norte e Bacia de Rotação, o caso muda de figura e eu começo por perguntar qual foi o resultado da recolha e análise de sedimentos, tal como é obrigatório ?
Por outro lado, a nossa Comunidade Piscatória, de saber ancestral, coloca sérias duvidas sobre as dragagens nestes volumes, acreditando que irão prejudicar “nurseries” e o ciclo alimentar dos roazes e tambem prejudicarão a  pesca artesanal que se processa diariamente no Sado.
 Finalmente , o tipo de dragas e a sua dimensão, poderão ser um factor de primordial importancia e que deve ser objecto de cuidada ponderação , não bastando as promessas da Empresa armadora, logicamente mais interessada em não perder tempo em paragens definidas pelo Concessionário e desejando resguardar o lucro do Contrato.
Muito mais haveria para dizer, em defesa do belissimo Rio Sado e da Cidade que não merece uma cortina de contentores ao longo da Margem Norte mas fica para outra ocasião se tal se proporcionar.

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