terça-feira, 21 de outubro de 2014

TEATRO QUASE CÓMICO


Na esquerda baixa uma pequena mesa, tampo redondo e “pé de galo”, um telefone preto modelo 1950 parecia deslocado num cenário desprovido de adereços que desviassem a nossa atenção.

Escutadas as indispensáveis pancadinhas de Moliére, a porta colocada lá no fundo do cenário abriu-se lentamente e entrou formosa dama, vestido longo, farta e loira cabeleira, jóias quase espampanantes e um sorriso que eu diria, bem matreiro.

-Maria, vem cá e traz o chá,  quente por favor. Olha não esqueças os bolinhos que ontem o Senhor Marquês de Olinda cá deixou.

Uma voz sumida vinda de perto, respondeu:

-Sim minha Senhora, já vai.

Segundos não eram passados entrou a serviçal, fardada e de branca touca com um tabuleiro bem composto que pousou em frente ao cadeirão vermelho onde se sentava a bela dona daquilo que se presumia ser um vetusto palacete, talvez situado na Lapa ou mesmo na Foz.

-A senhora deseja mais alguma coisa?

- Já agora vê se chove porque o Senhor Marquês prometeu voltar se o tempo estivesse ensolarado mas eu ainda há pouco vi pela janela do quarto umas quantas nuvens de mau presságio.

-Sim minha Senhora.

Ela saiu e escutou-se o toque do telefone.

Dois passos lestos e levantando o auscultador, escutou embevecida antes de responder:

-Mas Marquês venha rápido, não consigo esquecer o calor das suas mãos aquecendo os meus seios, a ternura dos seus beijos, a doçura dos bolinhos que me ofereceu, venha rápido por favor, bem sabe o que o espera e para mais a Maria foi ver o céu e o Sol brilha.

Desligou e como que falando para si, escarneceu:

_ O AMOR É…ter que aturar este velho babado que só tem forças nos dedos da mão mas há falta de melhor…
                                                                                 Resultado de imagem para foto de palco de teatro       
Caiu o pano, entre aplausos de uma plateia vazia, melhor, estava lá eu , apaixonado como sempre por aquela bela mulher .

É assim o amor.

Sem comentários:

Enviar um comentário