Na esquerda
baixa uma pequena mesa, tampo redondo e “pé de galo”, um telefone preto modelo
1950 parecia deslocado num cenário desprovido de adereços que desviassem a
nossa atenção.
Escutadas as
indispensáveis pancadinhas de Moliére, a porta colocada lá no fundo do cenário
abriu-se lentamente e entrou formosa dama, vestido longo, farta e loira
cabeleira, jóias quase espampanantes e um sorriso que eu diria, bem matreiro.
-Maria, vem
cá e traz o chá, quente por favor. Olha
não esqueças os bolinhos que ontem o Senhor Marquês de Olinda cá deixou.
Uma voz
sumida vinda de perto, respondeu:
-Sim minha
Senhora, já vai.
Segundos não
eram passados entrou a serviçal, fardada e de branca touca com um tabuleiro bem
composto que pousou em frente ao cadeirão vermelho onde se sentava a bela dona
daquilo que se presumia ser um vetusto palacete, talvez situado na Lapa ou
mesmo na Foz.
-A senhora
deseja mais alguma coisa?
- Já agora
vê se chove porque o Senhor Marquês prometeu voltar se o tempo estivesse
ensolarado mas eu ainda há pouco vi pela janela do quarto umas quantas nuvens
de mau presságio.
-Sim minha
Senhora.
Ela saiu e
escutou-se o toque do telefone.
Dois passos
lestos e levantando o auscultador, escutou embevecida antes de responder:
-Mas Marquês
venha rápido, não consigo esquecer o calor das suas mãos aquecendo os meus
seios, a ternura dos seus beijos, a doçura dos bolinhos que me ofereceu, venha
rápido por favor, bem sabe o que o espera e para mais a Maria foi ver o céu e o
Sol brilha.
Desligou e
como que falando para si, escarneceu:
_ O AMOR
É…ter que aturar este velho babado que só tem forças nos dedos da mão mas há
falta de melhor…
Caiu o pano,
entre aplausos de uma plateia vazia, melhor, estava lá eu , apaixonado como
sempre por aquela bela mulher .
É assim o
amor.
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