Suicídio, disse ela !
Vinte e dois anos na policia criminal já me deviam
ter dado preparação para enfrentar toda a espécie de cenários e na verdade
durante aquele tempo fui chamado a colaborar em investigações de todo o género,
desde crimes violentos até roubos ousados.
Era sexta feira e eu estava de serviço permanente
durante vinte e quatro horas, coisa que acontecia uma vez por mês, o que sempre
me dava algumas horas de tranquilidade frente ao computador aproveitadas para
ir viajando pela inesgotável internet.
Cerca da meia noite tocou o telefone e do gabinete
de comunicações passaram uma chamada que veio alterar definitivamente o meu
almejado e prometido sossego.
Uma voz feminina, calma e bem pronunciada pedia a
urgente comparência de um detective numa residência cujo endereço logo
fornecido, me orientou para Sines, porto marítimo que eu bem conhecia e onde
diariamente atracavam grandes petroleiros que descarregavam crude para a
refinaria e outros navios de porte que
descarregavam milhares de toneladas de carvão para a central eléctrica.
Sem mais explicações o telefone foi desligado e eu
muito intrigado, corri para a garagem arrancando com o carro de serviço apenas
com um pirilampo azul no interior para me facilitar a marcha acelerada durante
os cerca de 150 quilómetros que tinha de percorrer.
Normalmente seriam os colegas de Setúbal a responder
ao chamado mas assoberbados com outros problemas, certamente teriam encaminhado
a chamada para Lisboa.
Cheguei a Sines e
à vivenda que correspondia à participação. Situada junto a uma bonita
capela, parecia debruçada sobre a área portuária onde se viam alguns barcos de
pesca iluminados por um luar que se
reflectia na calmaria de um mar enganador.
Janelas fechadas, nenhuma luz visível , cauteloso e
intrigado bati à porta aconchegando ao mesmo tempo a pistola de serviço, uma
Walter 9 mm que sempre me acompanhava.
O ruído de passos antecedeu a abertura da porta e
uma linda figura feminina , usando um provocante roupão abriu a porta, deixando
sair intensa luz vinda do interior do hall e que quase me ofuscou. Propositado
certamente.
Cumprimentos feitos e respectiva apresentação da
minha identificação fomos para um amplo salão onde se destacava uma acolhedora
lareira ,ardendo com efeitos fantasmagóricos mas belos.
E foi quando me confrontei com um corpo de homem completamente despido jazendo num sofá frente à lareira. Um redondo
buraco no meio da testa dispensava explicações. Assassinado a tiro, certamente.
A dama em silencio me recebera ou quase, em silencio
continuava. Achei por bem pedir telefonicamente a comparência do piquete da
policia cientifica e entretanto fui
fazendo as perguntas da praxe. Uma só resposta ia sendo monocordicamente
debitada, suicídio.
O roupão ia descaindo parecia que naturalmente, por
baixo nada e eu tentando manter a postura que se impunha.
Aproximei me do cadáver procurando a arma e nada
encontrei o que me pareceu estranho tratando-se de um proclamado suicídio e
nesta fase ,senti que o corpo da denunciante estava colado às minhas costas o
que não seria desagradável se não fossem as circunstancias e foi então que
juntando a boca ao meu ouvido direito, ela me sussurrou:
Fui eu que o suicidei !
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