segunda-feira, 22 de setembro de 2014

SUICIDIO


                                                   Suicídio, disse ela !

Vinte e dois anos na policia criminal já me deviam ter dado preparação para enfrentar toda a espécie de cenários e na verdade durante aquele tempo fui chamado a colaborar em investigações de todo o género, desde crimes violentos até roubos ousados.
Era sexta feira e eu estava de serviço permanente durante vinte e quatro horas, coisa que acontecia uma vez por mês, o que sempre me dava algumas horas de tranquilidade frente ao computador aproveitadas para ir viajando pela inesgotável internet.
Cerca da meia noite tocou o telefone e do gabinete de comunicações passaram uma chamada que veio alterar definitivamente o meu almejado e prometido sossego.
Uma voz feminina, calma e bem pronunciada pedia a urgente comparência de um detective numa residência cujo endereço logo fornecido, me orientou para Sines, porto marítimo que eu bem conhecia e onde diariamente atracavam grandes petroleiros que descarregavam crude para a refinaria e outros navios  de porte que descarregavam milhares de toneladas de carvão para a central eléctrica.
Sem mais explicações o telefone foi desligado e eu muito intrigado, corri para a garagem arrancando com o carro de serviço apenas com um pirilampo azul no interior para me facilitar a marcha acelerada durante os cerca de 150 quilómetros que tinha de percorrer.
Normalmente seriam os colegas de Setúbal a responder ao chamado mas assoberbados com outros problemas, certamente teriam encaminhado a chamada para Lisboa.
Cheguei a Sines e  à vivenda que correspondia à participação. Situada junto a uma bonita capela, parecia debruçada sobre a área portuária onde se viam alguns barcos de pesca iluminados por um luar  que se reflectia na calmaria de um mar enganador.
Janelas fechadas, nenhuma luz visível , cauteloso e intrigado bati à porta aconchegando ao mesmo tempo a pistola de serviço, uma Walter 9 mm que sempre me acompanhava.
O ruído de passos antecedeu a abertura da porta e uma linda figura feminina , usando um provocante roupão abriu a porta, deixando sair intensa luz vinda do interior do hall e que quase me ofuscou. Propositado certamente.
Cumprimentos feitos e respectiva apresentação da minha identificação fomos para um amplo salão onde se destacava uma acolhedora lareira ,ardendo com efeitos fantasmagóricos mas belos.

E foi quando me confrontei  com um corpo de homem completamente despido  jazendo num sofá frente à lareira. Um redondo buraco no meio da testa dispensava explicações. Assassinado a tiro, certamente.
A dama em silencio me recebera ou quase, em silencio continuava. Achei por bem pedir telefonicamente a comparência do piquete da policia cientifica e entretanto  fui fazendo as perguntas da praxe. Uma só resposta ia sendo monocordicamente debitada, suicídio.
O roupão ia descaindo parecia que naturalmente, por baixo nada e eu tentando manter a postura que se impunha.
Aproximei me do cadáver procurando a arma e nada encontrei o que me pareceu estranho tratando-se de um proclamado suicídio e nesta fase ,senti que o corpo da denunciante estava colado às minhas costas o que não seria desagradável se não fossem as circunstancias e foi então que juntando a boca ao meu ouvido direito, ela me sussurrou:

Fui eu que o suicidei !

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